HUBS COMUNITÁRIOS DE INOVAÇÃO: Caminhos para uma Economia da Inovação mais Sustentável e Equitativa em Salvador
- Magda Maria Guimarães de Andrade
- 26 de jun.
- 6 min de leitura
Introdução
Os hubs comunitários de inovação são espaços inclusivos que reúnem indivíduos de diferentes origens e perspectivas. Têm como premissa refletir as diversas necessidades e experiências das comunidades e o potencial de desempenhar um papel vital no fomento da criatividade, inovação, aprendizado e empoderamento de grupos demográficos frequentemente excluídos.
Entendido como espaços de desenvolvimento e experimentação para apoiar a criatividade, a colaboração e a transformação digital, com soluções orientadas para as necessidades das comunidades, capaz de gerar novos negócios, transformar conhecimento em riqueza, promover a democratização da inovação e construir um futuro mais justo e igualitário para todos.
Um dos principais benefícios dos hubs comunitários de inovação é sua capacidade de promover um senso de propriedade e urgência entre os membros da comunidade. Ao participar do desenvolvimento e implementação de projetos, os membros da comunidade podem assumir um papel ativo no enfrentamento dos problemas que os afetam, em vez de depender de organizações externas para resolvê-los. Isso pode levar a um maior senso de empoderamento e orgulho dentro da comunidade.
Entre os diferenciais dos hubs comunitários de inovação está seu potencial para impulsionar o crescimento econômico, o empoderamento e o desenvolvimento sustentável. Ao fornecer acesso a recursos como mentoria, oportunidades de networking e financiamento, esses hubs podem ajudar pequenos comerciantes em comunidades em situação de vulnerabilidade socioeconômica a decolar e crescer. Isso, por sua vez, pode impulsionar à criação de novos empregos e a uma melhoria social e econômica das comunidades envolvidas.
A inovação não acontece no vácuo; acontece em lugares e é moldada pelas pessoas. A inovação inclusiva consiste em garantir que a economia da inovação crie oportunidades para pessoas e comunidades. Assim, é fundamental identificar os elementos constitutivos que criam economias locais de inovação prósperas, equitativas e sustentáveis, e como elas podem ser implementadas em larga escala.
A inovação representa atualmente apenas uma fração da atividade econômica de Salvador, mas tem grande relevância no aumento da prosperidade e na preparação de estruturas econômicas para o futuro. Para muitas pessoas, a perspectiva de trabalhar com inovação é remota, e os benefícios das novas descobertas estão desconectados de suas próprias vidas.
Salvador precisa de uma economia de inovação mais inclusiva, que identifique desafios, promova soluções e crie oportunidades para pessoas e comunidades, independente de segmentos econômicos ou grupos demográficos.
Democratizando a Inovação em Salvador
A proposta para Salvador tem por objetivo habilitar e promover a inovação inclusiva, dando direitos, voz, capacidades e incentivos para que os grupos em situação de vulnerabilidade socioeconômica se tornem participantes ativos nos processos de desenvolvimento e inovação. Isso significa uma forma de interação que reúne comunidades, as capacita a identificar suas próprias necessidades e prioridades, e suas próprias respostas a essas necessidades, de modo a melhorar suas vidas diárias e perspectivas. Muitas dessas questões locais estão conectadas aos principais desafios sociais do nosso tempo, desigualdade econômica, danos ambientais e o estresse relacionado ao bem-estar mental e espiritual das pessoas.
O modelo proposto para os hubs comunitários, contemplam um forte aspecto social, contribuindo, em particular, com o que preconizam os ODS 1 (Erradicação da Pobreza), ODS 4 (Educação de Qualidade), ODS 5 (Igualdade de Gênero), ODS 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico), ODS 10 (Redução das Desigualdades), ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis) e ODS 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima), embora não se limitem a estes. O seu caráter inclusivo, voltado ao desenvolvimento sustentável e o empoderamento de comunidades carentes, a partir da inovação e da tecnologia, está fortemente associado ao ODS 17 (Parcerias e Meios de Implementação), em que os países desenvolvidos são conclamados a apoiar financeiramente os menos desenvolvidos, em iniciativas que promovam o seu desenvolvimento tecnológico e a capacitação dos cidadãos, incrementando o seu desenvolvimento socioeconômico.
A inovação inclusiva (Figura 1) é definida como a que prioriza a igualdade, a diversidade e a inclusão no design e desenvolvimento de um produto, processo ou serviço, com soluções voltadas para comunidades e territórios vulneráveis, tendo como premissa abordar um desafio.
Figura 1 – Inovação inclusiva Fonte: desenvolvido pela autora com base em JOHNSON, B. & ANDERSEN, A.D. (2012). Learning, innovation and inclusive development. Denmark: Aalborg University Press.

A abordagem básica é criar hubs comunitários de inovação em territórios vulneráveis, destinados a servir como um espaço físico e virtual, no qual a inovação local pode ser iniciada e apoiada para escalar. No modelo a ser implantado, serão desenvolvidos protótipos e programas que serão co-projetados com as comunidades, visando: a) apoiar para capacitá-los a dar o próximo passo em sua jornada em direção ao conhecimento, negócio ou emprego e b) apoiar o desenvolvimento de ideias, visando promover a transformação socioeconômica e digital.
A solução deverá promover a aceleração do desenvolvimento social, econômico e urbano de grupos demográficos frequentemente excluídos em comunidades e territórios vulneráveis, bem como a elevação do PIB, ancorada em três eixos: i) pessoas; ii) negócios; iii) território. O foco deverá ser o desenvolvimento aberto, com base em uma abordagem de cocriação e participação, centrada na perspectiva dos cidadãos, onde serão priorizadas a proximidade, a corresponsabilidade e a personalização do atendimento, a fim de promover a coesão social, principalmente de grupos em situação de vulnerabilidade e exclusão. O objetivo final é a melhoria do bem-estar e da qualidade de vida dos cidadãos, combinando uma melhor articulação dos processos de inovação, serviços e recursos do território.
Para o sucesso das intervenções e garantir conformidade com as características das ações propostas para um determinado projeto, plano ou programa, o processo de envolvimento das comunidades deverá comportar diferentes níveis de participação, como: informar, ouvir, engajar, colaborar e empoderar (Figura 2).
Figura 2 – Abordagem metodológica Fonte: desenvolvido pela autora (2022)

O estágio mais elevado é o empoderamento, que viabilizará a inclusão produtiva na perspectiva da cidadania plena. A estratégia de engajamento dos cidadãos/comunidades deverá cobrir três dimensões básicas, a fim de permitir:
i. conscientização sobre a ação;
ii. capacitação individual e coletiva (literacia digital);
iii. geração de ambiente favorável que permita a cocriação e o desenvolvimento de uma participação ativa e vinculante.
Deverá ser um espaço aberto às comunidades locais, prioritariamente grupos demográficos frequentemente excluídos, com disponibilização de recursos para ajudá-las a projetar e produzir soluções inovadoras que resolvam os problemas reais com os quais têm que lidar. Reconhecendo o potencial do envolvimento do cidadão nos processos de inovação, a abordagem deverá ser ancorada no modelo de inovação de hélice quádrupla, como potencial para fazer as hélices girarem e envolverem os cidadãos, não apenas como usuário final, mas como voz para transformação social inclusiva, visando a concepção e implantação de projetos com prototipagem orientada para solução de problemas urbanos demandados pelas comunidades, com o propósito para criar uma comunidade empoderada.
O modelo proposto tem por objetivo servir a um território com ajuste de soluções, apropriado a cada comunidade, e afirmar o município como espaço de desenvolvimento e experimentação de soluções urbanas orientadas para as necessidades das comunidades, que se traduza numa aliança entre a inovação, o território e o empreendedorismo com foco na inclusão digital produtiva, num contexto de governança aberta e de conectividade com a economia global, visando a melhoria da qualidade de vida e empoderamento de cidadãos, onde a inovação e a tecnologia serão usadas para fomentar as estruturas sociais, sendo necessária a definição de atribuições das partes envolvidas, as metas a serem atingidas e os prazos a serem cumpridos.
Recomendações
Os hubs comunitários deverão promover a inovação como ambiente acessível e benéfico para pessoas e lugares, a fim de promover oportunidades a outras áreas da economia, conectando-se a áreas de emprego em massa, aumentando o acesso a trabalho decente e promovendo o empoderamento. Deverá promover amplo impulso de políticas que promovam negócios inclusivos, empreendido por diferentes atores, potencialmente de maneiras diferentes, mas com um objetivo comum de vincular inclusão e inovação em algum sentido.
Como pré-requisito para o sucesso, embasar políticas e implementá-las, é necessário entender os elementos constitutivos que criam economias locais de inovação prósperas, inclusivas e sustentáveis, e como elas podem ser implementadas em larga escala.
Assim, recomenda-se o mapeamento de Zonas de Inovação e Desenvolvimento Sustentável (ZIDS): áreas para projetos urbanos ultra locais e flexibilidade regulatória que visam criar um ambiente propício para a popularização da inovação, do empreendedorismo e do desenvolvimento sustentável, aspirando o progresso socioeconômico.
A recomendação visa implantar uma economia da inovação de rápido crescimento que valorize práticas de emprego justas, programas de literacia sustentável e acompanhamento dos impactos e resultados, abrindo caminhos para um modelo de inovação mais sustentável e equitativo.
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